quinta-feira, 24 de março de 2011

NAEA Conference em Seattle / USA 17 a 21 de março de 2011

Resenha de Ana Mae Barbosa, especial para Revista Art&.

"Por três anos me foi impossível ir aos Congressos anuais da National Art Education Association dos Estados Unidos que é a maior organização de Arte/Educação do mundo com mais de catorze mil associados. No Congresso deste ano havia seis mil participantes. Voltar a frequentar a NAEA foi realmente uma grande experiência.

Recebi um convite de Jerome Haussman para participar de sua mesa The Next Revolution In Art Education no Forum dos Distinguished Fellows. Como sou a única estrangeira que não vive nos Estados Unidos a quem a grande honra de Distinguished Fellow foi conferida, não pude recusar, embora estivesse voltando de um curso na Universidade de Girona.

Com os alunos do Mestrado em Girona discutimos qual seria a revolução em Arte/Educação que deveríamos apoiar, assim como discuti o mesmo assunto no curso de mestrado em Design, Arte, Moda e Tecnologia da Universidade Anhembi Morumbi. Também enviei a mesma pergunta para dez arte/educadores internacionais no top de suas profissões.

Os alunos de Girona foram quase unânimes acerca da necessidade de apoiarmos valores voltados para a justiça social, a criação e a ética.

Os alunos brasileiros também foram quase unânimes no apoio a uma revolução voltada para a ecologia humana, ecologia da natureza, ecologia do conhecimento, ecologia do meio ambiente construído e ecologia da economia.

Quanto aos especialistas, as respostas foram tão diversificadas que não dá para chegarmos a um mínimo denominador comum. As mais veementes respostas falaram do feminismo e da E-Arte/Educação ou Arte/Educação tecnológica. Destas variáveis falei ao público da NAEA. Dei contas ao público da NAEA do que estamos fazendo no Brasil em relação à ecologia no ensino da Arte e do Design. Há cinco anos, por compromisso profissional, venho pesquisando e ensinando na intersecção da Arte e do Design, mesmo antes deste tópico se transformar em foco de interesse da Arte/Educação.

Este ano na NAEA as mesas sobre Art and Design Education foram as mais concorridas. Cultura Visual já não é algo discutível, já está assimilada na Arte/Educação americana, pois seus estudos foram integrativos com respeito à história e àqueles que faziam Cultura Visual antes da Cultura Visual ter este nome. Desde os primórdios do modernismo houve arte/educadores americanos como Belle Boas (anos vinte, na Columbia University) que integraram diferentes meios produtores de imagens ao ensino da Arte e estenderam o campo de sentido da Arte para a Antropologia e os meios de comunicação.

A grande preocupação agora é com Arte e Design na Educação.

Deste tema falaram Kerry Freedman, Mary Ann Stankiewicz e Robin Vande Zander. Foi uma mesa excelente. Começou com a História do ensino da Arte e do design na Escola Normal de Massachusetts, hoje Massachusetts College of Art, onde eu fiz uma disciplina durante meu doutorado. Falaram de Walter Smith que influenciou o mundo todo no inicio do século XX, da Nova Zelândia ao Brasil. Foi analisada também a Revista School Arts, por Robin Zander, demonstrando que esta preocupação com o Design sempre esteve subjacente ao ensino da Arte nos Estados Unidos. A frase com a qual Kerry Freedman, a grande dama da Cultura Visual, terminou sua fala ecoou por todo o Congresso, todos os outros dias: “Art and Design Education is Visual Culture”.

Para os “já era”, isto é, aqueles que só ensinam novidades a seus alunos, sem considerações de valores, sem contextualização e sem história, é bom saber que Cultura Visual não é mais novidade.

Arte e Design Education vem sendo defendida com grande ênfase na África do Sul. Há dois anos, em um Congresso sobre Design, um professor Sul Africano disse que, em sua universidade, o número de professores de Design Education era quase o triplo do número de professores de outras áreas do Design. Quando perguntei por que, ele respondeu que era política do governo. Portanto, a 'nova onda' em direção ao ensino da Arte e do Design não recomeçou nos países ricos, mas em um país em desenvolvimento.

A crise está obrigando os paises ricos a reverem suas posições.

Uma das linhas fortes nos Estados Unidos em Art and Design Education é o Design Thinking, que tem Martin Rayala como adepto. Ele presidiu uma mesa também muito boa e acredita que pesquisa, experimentação e prototipagem são processos criadores aplicáveis a toda produção humana. Mas, isto é assunto para outro artigo no qual se possa discutir mais largamente sobre as pressões do capitalismo sobre a educação fazendo os arte/educadores norte americanos “to follow the money” e o resto do mundo os seguirem.

Na história recente o dinheiro da Getty (ESSO) produziu uma revolução no ensino da Arte dando ênfase ao entendimento da Arte, a imagem na sala de aula, ao DBAE (Disciplined Based Art Education). Um rico colecionador, Paul Getty, legando sua coleção ao público precisava ser valorizado, era necessário que todos entendessem seu legado daí a ênfase na História da Arte, na Estética e na Crítica de Arte. Não foi de todo mal, pois ficou a importância de se ler imagens nas aulas de Arte. No fim dos anos noventa um Encontro nos headquarters da IBM reuniu cem arte/educadores top no mundo para ouvir os executivos das grandes corporações de entretenimento dizerem de que tipo de criadores precisavam na industria cultural. Havia mercado mas não havia produtos suficientes para vender. Surgiu a ênfase na Cultura Visual. Talvez não tenha surtido o efeito que os executivos do entretenimento queriam, mas resultou positiva pela ampliação do campo de sentido da Arte.

E agora? A que veio o Design Thinking neste momento de crise econômica e crise do capitalismo?

Ana Mae Barbosa"

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